[Dou a cara ao vento]

Dou a cara ao vento
que vem lento
e como eu sedento
de movimento.
Sinto-o bem na pele
mas não sei se é de mim
ou se dele
que não me movo.
Tenho saudades de ser um animal,
uma besta,
algo novo
mas doem-me os pés de tanta mudança.
Desde criança
que a dança é esta.
A minha cara cora.
Já é hora.
Dou meia volta,
viro costas
e vou-me embora.

Fumo um cigarro,
cuspo o catarro,
vou correr a achar que sou de aço
e cuspo meio maço.
Não me falta o ar,
falta-me o espaço
e em vez de me cansar
nada faço
e corro às voltas
de rimas soltas.
Prendo-as em mim para fugir com elas.
Agora já não corro,
Ainda me perco delas
e isso é que não!
(Ainda cuspo no chão.
Já disse que sou de aço?)
Ao menos aprendo,
acho,
a cada passo,
pé ante pé
(sim)
sem perder a fé
no meu fim
que ainda não sei qual é.
Vou improvisando
enquanto me vou enganando
ou vice-versa.
Já nasci com pressa,
cheio de vontade.
Agora temo descobrir que na verdade
isto podia ter mais piada
e por magia
ser o que eu queria.

Sem comentários: