E agora.

E agora, escrevo o quê,
se perdi o pio?
Se já fui de fio a pavio
e o que me apraz escrever
é conjunto vazio.
Se já perdi razões,
noites, serões
em surreais deambulações,
em becos sem saida
ou em poços de fundo raso.
E mesmo quando dou aso à vida,
volta e meia
fico com fome
de barriga cheia
porque o sabor que fica na boca
também corrói.
Afinal, esta capa de super-herói
serve só para tapar o frio.
Sobra-me a energia
do medo da hipotermia
de mandá-la fora.
E agora,
culpo quem?
Espero um comboio que já não vem.
E já que perdido por cem,
com uma ponta de amargura,
de um rasgo
devoro o resto,
como com fartura
e se me engasgo
escondo a tosse
como se forte fosse.
Sento-me, espero a morte
como se fosse forte,
para acabar sobrevivendo
nas vias
do que de mim sobeja.
Que seja!
Já tenho o cabelo com cerveja
e a mesma t-shirt há três dias.
Espero só dar por mim,
ainda de mãos vazias
a querer sair sem saber porquê.
Mas e agora,
visto o quê?

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