Bom dia!, diz-me um sem-abrigo que foi a pessoa mais abrigada que conheci hoje. Uma senhora, muito cordial, mandou-me endireitar as costas.
  "Aqui diz que não ficou bem".
  "Ah, não faz mal. Agora ponha aqui o dedo. São quinze euros". E a  máquina apita. Não se ouve mais nada senão barulho e conversas.
  "Não, estão a dar ali chapéus na Cintramédica", quando contorno o edifício, diz o Sr. Alberto, cujo nome é fictício porque não fiquei para perguntar. Uma senhora velhinha, coitadinha, ficou à espera que a ajudasse com o carrinho, coitadinho. Eu fiquei à espera que ela pedisse, pois esqueci-me que a cavalheirice abrange toda a gente, porque estava ocupado a fazer tempo para nada, à espera de ninguém.
  Convido-os para almoçar e ninguém responde. Não devem ter fome.
  Aqui, a "Sofia e a alma gémea" nunca mais se beijam enquanto o Francisco Lopes ainda pede votos e já três acidentes quase aconteceram. Há fila nos CTT, os autocarros circulam desgovernados, as gruas giram sobre si, como os astros, solicitam-se advogados, a Remax diz ter a solução para a crise e as pessoas olham para mim com um olhar estranho talvez por ser o único com coragem para se sentar a escrever num banco que range (e tenho dúvidas que isto seja mesmo um banco) no parque do Urbanismo (que não podia ser mais urbano) com as suas árvores urbanas já mortas ou em hibernação induzida e ainda não me virei para ver o outro lado!
  Isto hoje está monótono. Não sei se vai chover ou se é dos tubos de escape. Vou mudar de cenário.

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