Ode ao Sol
O meu corpo mole perde-se no que pareces.
Rezo as minhas preces
numa ode ao Sol
porque gosto de olhar para com quem falo.
E se Ele não me ouve é porque me calo.
Manda-me esquecer o que houve
e lembrar-me do que ainda não existiu,
o que ainda ninguém viu.
E prevê o que ninguém vê nem adivinha.
Mas a alma é minha
e não lhe presto atenção:
perco tempo a pensar se devia.
Está um tempo de merda.
O não se ver o Sol é a grande perda.
Não lavo a cara,
os olhos são do dia anterior
porque a cafeína esta cara.
Noto nos dedos um ligeiro tremor,
neste escuro que é um horror.
E não há maneira de almoçar sem aleijar a carteira.
Fico com fome, mole,
a levantar a cabeça
à espera do Sol
que pode ser que me aqueça.
Avé, ó Baco!
O mundo não pára
E se não pára:
Avé, ó Baco.
Levo as mãos à cara
Que cheiram a tabaco
(E ao perfume dela, que perfume!,
Que não sai por mais que fume).
Peço à sorte que passa,
Que no seu enlace,
Me abrace e saiba porque me abraça!
Pois então, senão,
Somos já todos cadáveres dentro d'um saco.
Porque o mundo não pára.
E se não pára:
Avé, ó Baco!
E se não pára:
Avé, ó Baco.
Levo as mãos à cara
Que cheiram a tabaco
(E ao perfume dela, que perfume!,
Que não sai por mais que fume).
Peço à sorte que passa,
Que no seu enlace,
Me abrace e saiba porque me abraça!
Pois então, senão,
Somos já todos cadáveres dentro d'um saco.
Porque o mundo não pára.
E se não pára:
Avé, ó Baco!
Fecho
Encosto-me ao balcão para ver do que é feito:
Sólida madeira curada, sem defeito
E aguardente entornada.
-Que vai ser?- pergunta a criada.
Que haveria de ser? O custume.
Um trago depois e contando dois,
-Alguém tem lume?
Sob céu de lua vaza,
Volto para casa:
Habitáculo pequeno e
Ar rarefeito.
Lixo ameno espalhado a preceito.
O desconforto aperta-me,
Acarinha-me, Evita-me,
Cheira-me porque cheiro
Ao mesmo cheiro do lixo do meu quarto
Que me abraça
E de que estou farto!
Bom dia!, diz-me um sem-abrigo que foi a pessoa mais abrigada que conheci hoje. Uma senhora, muito cordial, mandou-me endireitar as costas.
"Aqui diz que não ficou bem".
"Ah, não faz mal. Agora ponha aqui o dedo. São quinze euros". E a máquina apita. Não se ouve mais nada senão barulho e conversas.
"Não, estão a dar ali chapéus na Cintramédica", quando contorno o edifício, diz o Sr. Alberto, cujo nome é fictício porque não fiquei para perguntar. Uma senhora velhinha, coitadinha, ficou à espera que a ajudasse com o carrinho, coitadinho. Eu fiquei à espera que ela pedisse, pois esqueci-me que a cavalheirice abrange toda a gente, porque estava ocupado a fazer tempo para nada, à espera de ninguém.
Convido-os para almoçar e ninguém responde. Não devem ter fome.
Aqui, a "Sofia e a alma gémea" nunca mais se beijam enquanto o Francisco Lopes ainda pede votos e já três acidentes quase aconteceram. Há fila nos CTT, os autocarros circulam desgovernados, as gruas giram sobre si, como os astros, solicitam-se advogados, a Remax diz ter a solução para a crise e as pessoas olham para mim com um olhar estranho talvez por ser o único com coragem para se sentar a escrever num banco que range (e tenho dúvidas que isto seja mesmo um banco) no parque do Urbanismo (que não podia ser mais urbano) com as suas árvores urbanas já mortas ou em hibernação induzida e ainda não me virei para ver o outro lado!
Isto hoje está monótono. Não sei se vai chover ou se é dos tubos de escape. Vou mudar de cenário.
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