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Quase nove horas,
Sinto tudo menos eu próprio.
Porque é que demoras,
Estando eu já sóbrio?
Ou partiste por tal?
Deixaste-me mal
De consciência,
A vomitar palavras de dor sem ciência
E factos sem sentido.
Se oiço um gemido
É o meu estomago faminto,
A imitar o coração
Quando minto e digo que não
Quando o não é toda a verdade.

Deixas-me a saudade
De desaparecer ficando quieto,
Estremecer inquieto,
Ser certo.
Ver de perto
Cataclismos exóticos pelos pórticos do corpo.
Vou ser auto-salvo.
E salvo os erros semânticos
Nesta epopeia de três cânticos,
Far-me-ás o mal que preciso,
Deixando-me à sorte,
Enganando a morte
Porque me perco.
Serás o meu esterco.
Acabarás a cheirar bem e eu pronto a colher.
Acabarei maduro no chão duro:
Serei o fruto proibido de mim próprio.

O mal que há em ser-se pó
É que se é levado pelo vento.
E com isso, perde-se.
Eu tento
Mas a opurtunidade perde-se
E o vento passa, e de que maneira!
As asas, sem eira nem beira
Deixam a cabeça em poeira
Apenas com algo, que pergunta
"E quem és tu no meio disto tudo
E quem sou eu o meio de ti?"

Se eu fui, tu foste.

Foste a alma.
Tu, a calma.
Eu, a miséria.
Oh, minha cara,
De cara séria
Diz-me

Quem são os nomes que me chamam,
Coisas más ou boas...
Já tenho o corpo dorido
Do quase tudo atribuído
No meio de tantas pessoas.

E ninguém me conhece.
Olha, uma que sabe quem sou!
Mas não me conhece.

Mas vou,
Ter com ela.
Um pouco de conversa de janela
E assumo deliberadamente a posição de ir.
Seguir. Subir
Mais uma ladeira
E outras acções que terminem da mesma maneira
(E não só):
Em cansaço
De ser pó.